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Um Passeio Audacioso pelos Algoritmos de Inteligência Artificial

A DESCOBERTA DESLUMBRANTE

Muitas notícias circulando sobre uma tal Inteligência Artificial com um nome difícil de pronunciar e um alcance inimaginável. “Chatigepetê” que se diz. “Preciso verificar isso” eu pensava a cada deslizada no Feed do Instagram. No dia em que consegui acesso à ferramenta, após finalizar o trabalho lá pela noite, já estava na terceira ou quarta tentativa. É que àquela altura, havia fila de espera, tendo em vista os espantosos 100 milhões de usuários alcançados em apenas 2 meses de lançamento. O último recorde havia sido do Tik Tok, alcançando o mesmo feito em 9 meses.

Depois da tela de acesso, lembro da empolgação diante do que parecia ser só mais um site de bate papo estilo old school. Àquela altura já havia lido horrores, temores e louvores sobre o algoritmo milagroso que acabara de surgir. E diante de mim pairava uma questão: “Ok bonitão, é tudo muito legal, mas na prática, o que iremos fazer com isso?”

Normalmente diante de um desafio como esse, eu vejo a sola do pé e a sola da mente como boas vestimentas para me aventurar pelas fronteiras do conhecimento. E confesso que, desde as primeiras respostas obtidas com os simples comandos que digitei ali naquela noite, tenho sentido cada vez mais empolgação a cada experimento mirabolante ou tarefa resolvida. Tentar organizar as ideias de modo a tornar a ferramenta verdadeiramente útil no dia a dia de trabalho tem sido como tentar conter uma maré crescente invadindo manguezais. Essa torrente tecnológica disruptiva avança vertiginosamente em praticamente todos os campos de atuação, desafiando conceitos e desencadeando possibilidades antes inimagináveis. E eu não poderia ficar de fora disso.

APRENDIZADO E PERCEPÇÕES

Passei a dedicar certa atenção ao assunto e sempre que podia alternava alguma tarefa do meu fluxo normal para a Inteligência Artificial. E foi vendo as tarefas que antes levavam longas horas serem cumpridas literalmente em poucos minutos que decidi implementar a tecnologia no fluxo de trabalho da Urbe Space Arquitetura. E à medida em que a sede por aprender e dominar a ferramenta iam aumentando, eu ia percebendo que aquilo não era um delírio infantil e sim uma oportunidade.

Cerca de 20 dias após meu primeiro acesso, precisei admitir que deveria dar certa prioridade a “isso”. Era inegável afinal já havia utilizado o ChatGPT 3.5 para aprender coisas muito mais rapidamente, gerar insights, enviar e-mails, realizar experimentos, construir uma estratégia de marketing validada, produzir conteúdo, divulgar vagas, levantar e organizar dados, escrever códigos de programação, ponderar decisões importantes, inúmeras consultorias com “profissionais” de várias áreas como jurídica, financeira, contábil, marketing, arquitetura, administrativa, entre tantas outras tarefas já realizadas. E enquanto eu dava sentido prático para a ferramenta, buscava um significado para toda aquela disponibilidade e potência.

Em resumo, diria que a Inteligência Artificial veio para ficar na vida das pessoas, mas que assim como outras tecnologias com impacto de escala, sua absorção será gradual, seu impacto real e o acesso inicial será limitado a quem obtém o conhecimento necessário para torná-la realmente útil e até lucrativa.

Para explicar melhor, dividi arbitrariamente a maturação da tecnologia em 3 fases, nesta etapa inicial: a primeira foi a fase pré-popularização, onde a tecnologia era incipiente, com baixa aderência e pouca disponibilidade. A segunda é a fase em que estamos vivendo agora, que é a da popularização, onde a tecnologia passa a ter uma aderência massiva e normalmente a percepção da utilidade foi expandida pelo aumento da disponibilidade e divulgação da tecnologia. A terceira fase deste período inicial parece ser fruto direto das duas primeiras. A pós-popularização é onde a tecnologia irá tomar um rumo. É o momento onde os desenvolvedores estão coletando dados massivos sobre como os usuários interagem com a ferramenta para aprimorá-la em função de suas exigências e necessidades. E aí já vemos algumas tendências, que irei citar no próximo capítulo.

De modo prático, é correto afirmar que as Inteligências Artificiais irão beneficiar os seres humanos em diversas esferas da vida. A área pessoal será afetada por exemplo, quando as pessoas puderem ter um assistente virtual capaz de ajudar a gerenciar os aspectos práticos do dia a dia, seja na jornada universitária de um estudante, nas metas de emagrecimento ou esportivas de praticantes de exercícios físicos, auxiliando investidores a alocar melhor seus recursos, médicos prevendo doenças com anos de antecedência, ou até mesmo ajudando a economizar energia elétrica nos bilhões de lares mundo afora. O que percebi menos de um mês de uso depois, é que a Inteligência Artificial ajuda a concluir tarefas que levariam muitas horas, em um tempo significativamente inferior para ser ignorado e que dentro dos fluxos de trabalho de um escritório de arquitetura, existem atualmente algumas dezenas de tarefas que podem contar com o poderio das IAs.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA PRÁTICA

O eixo profissional e o ambiente de negócios por sua vez terão impactos menos suavizados. Imaginemos no mercado de arquitetura, uma firma que domina este tipo de ferramenta e outra que não domina. A primeira certamente poderá oferecer preços mais competitivos aos seus clientes, o que pode torná-la mais atraente que os concorrentes, afinal de contas passou a reduzir o tempo necessário para executar determinadas tarefas em até 90% e com isso os custos agregados.

Por outro lado, algumas tecnologias do tipo game changer, como o BIM (Building Information Modeling), por exemplo, que realmente entregam maior produtividade e segurança no processo, não teve uma aderência explosiva. Em 2011, o governo britânico estabeleceu uma estratégia para o BIM nível 2, para todas as obras financiadas pelo governo e de lá pra cá Singapura, Portugal, EUA e até mesmo o Brasil têm iniciativas públicas e privadas incentivando o uso do BIM e mesmo hoje em 2023 observamos que a plataforma não é largamente utilizada no setor. Está em constante crescimento, mas não há sinais de aderência vertiginosa.

Acredito que a Inteligência Artificial não terá uma larga aderência a princípio entre os arquitetos, mas por conta da simplificação das interfaces de uso que ocorrerão ainda este ano e do surgimento de novos Apps baseados em IAs, certamente estará no fluxo da maioria deles em pouco tempo, comparando com a velocidade de avanço do BIM. As IAs também possuem limitações e ainda precisam de certo conhecimento para extrair material realmente profissional. Porém, diferente do BIM, elas abrem muitas possibilidades.

Vamos entender que existem três grandes barreiras frente a migração para a plataforma BIM, que são: treinamento de pessoal, aquisição de softwares e dispositivos mais potentes e mudança de processos. Mas existem pouquíssimas barreiras em frente a uma tecnologia, cujo objetivo é tornar a relação do homem com a máquina mais próxima do estado da arte possível: a relação conversacional. Ter uma tela onde você pode simplesmente se expressar de forma coerente e ser atendido, é completamente diferente de ter uma plataforma muito complexa e cara de aderir, mesmo que esta lhe renda economias futuras.

Aí é que está o grande lance. Imagine você, arquiteto ou designer de interiores, ou artista 3D, que levou meses e até anos se aprimorando em determinada ferramenta, mas que agora precisa lidar com o fato de que Inteligências Artificiais Generativas podem renderizar ideias na resolução de 8K, a partir de prompts escritos com uma linguagem natural em apenas alguns segundos. Pois é. Hoje, 31 de março de 2023 você já tem que lidar com esse fato. Compreende o que muda aqui?

O que justifica aderir a uma ferramenta que custa incontáveis horas e dólares para atingir determinado grau de acuracidade em detrimento de outra que faz um trabalho semelhante em apenas uma fração do tempo? Essas são as perguntas que impulsionam o mercado de arquitetura e qualquer outro a evoluir e melhorar. Se você quiser um motivo ambiental para obter imagens realistas de obras arquitetônicas utilizando Inteligência Artificial, pense que as longas horas de renderização serão economizadas em consumo de energia. Se você quer uma razão financeira, pense na economia de horas de trabalho de profissionais e no custo envolvido nisso. Mas se você prefere um motivo ainda mais valioso, que tal o tempo?

Dizem que o pessimista vê o copo meio vazio, enquanto o otimista vê o copo meio cheio. O que não dizem é que o curioso vai medir o copo para saber o que e quanto tem ali além de água. Em outras palavras, se você é arquiteto, médico, designer, filósofo, ou independente do fluxo de trabalho que você tenha adotado, é importante ter em mente que o tempo passa, as coisas mudam e caso você queira sobreviver ou até mesmo se destacar na selva do mercado, não é uma opção ficar parado.

Seja a Inteligência Artificial, ou a plataforma BIM, tecnologias de realidade virtual ou inovação em campanhas de marketing, é imperativo que estejamos cientes de estar utilizando métodos e ferramentas mais eficientes para nossa mesa de trabalho e das nossas equipes. As vezes o medo do novo nos impede de avançar por estradas que são ao mesmo tempo desconhecidas, mas que revelam belíssimas paisagens ao longo do caminho.

A verdade é que ao tentar identificar como poderia tornar os processos mais efetivos utilizando a Inteligência Artificial no dia a dia da equipe, mapeei uma série de tarefas que poderiam ter a contribuição do ChatGPT e de outras IAs para serem cumpridas. E surpreendentemente havia uma lacuna enorme nos processos criativos da Urbe Space. É inegável que os benefícios da IA vão além das expectativas de poucos anos atrás. Como um alquimista moderno, ela transforma produtividade, reduz custos, otimiza tempo e terceiriza tarefas mecânicas e matemáticas.

IA COMO ALIADA DA CRIATIVIDADE

A Microsoft acertou ao definir o nome da solução de inteligência artificial que funciona integrada com outros produtos como o Word, Excel, Power Point, Outlook, como “Copiloto”. O copiloto é alguém cuja relevância é tão alta quanto a daquele a quem dá suporte: o piloto. Este por sua vez é o criativo. Aquele que carrega em sua massa encefálica a visão que eventualmente se tornará algo concreto no mundo físico, assumindo o risco de suas decisões.

E é exatamente assim que as IAs se comportam pelo menos até então. Diferente do que tendemos a pensar, elas não executam nenhuma tarefa complexa e imensamente inteligente, caso você não lhe dê um comando antes. O lado bom disso é que você tem à sua disposição uma máquina capaz de concatenar uma quantidade de informações incalculável trazendo uma resposta satisfatória em um punhado de segundos.

Isso é extremamente útil e se aplica a incontáveis tipos de atividades distintas, pois possibilita ao piloto concentrar no que interessa, terceirizando as tarefas complexas, matemáticas e analíticas. O campo da criatividade, que conta com a bagagem do criador como ingrediente para suas obras, agora passa a ter ainda mais recursos para atingir ótimos resultados. Ter uma alta capacidade de processamento de informações em linguagem natural à disposição potencializa quase que exponencialmente a criatividade, pois lhe capacita com muito mais recursos para elaborar soluções ainda melhores, apmliando as fronteiras de possibilidades.

Um exemplo de aplicação na prática da arquitetura serão as IAs generativas de imagens. Elas recebem comandos de textos comuns, compreendem a semântica, identificam o objetivo e retornam com uma imagem o mais próxima possível do solicitado. Então imaginemos as etapas iniciais do projeto de arquitetura, onde é possível elaborar imagens de estudos em altíssima resolução, como se fossem renderizadas.

É um divisor de águas. A criatividade agora conta com novos pincéis, papéis, canetas, tesouras e colas para gerar imagens, conceitos, estudos, edições, junção de imagens e isso é só o começo. E esse é um dos maiores motivos pelo qual eu gostei de usar. A criatividade ganhou um upgrade e agora está muito mais livre e mais fluida entregando resultados mais rápidos, por conta do manancial de conhecimento antes restritos a livros, artigos e afins e agora disponível a quem interessar possa.

Na Urbe Space Arquitetura, a IA garantiu(?) seu lugar como uma ferramenta indispensável, mas apesar dos incontestáveis ganhos de produtividade também estamos atentos para evitar metamorfosear elementos singulares de nosso trabalho e na forma como interagimos com o mundo ao nosso redor. É preciso pensar em como reger essa orquestra de algoritmos inteligentes, para evitar que a ela passe a reger as nossas vidas.

SERÁ O APOCALIPSE?

A pouca diferença de dias desde quando comecei a escrever este artigo até o dia da sua publicação, foi suficiente para ter que acrescentar alguns dados novos em função da velocidade de mudança gerada pelo impacto do potencial dos algoritmos.

Quase cinco meses após o lançamento do brinquedinho da OpenAI, irrigada por bilhões de dólares da Microsoft do lendário Bill Gates, sai a atualização para a versão ChatGPT 4 cujas capacidades assustadoras foram suficientes para reunir assinaturas de milhares de cientistas, empresários, entidades e instituições ao redor do mundo, incluindo Elon Musk, Yuval Harari e outras tantas personalidades em uma carta alertando sobre os perigos sobre uma possível falta de controle sobre o treinamento das Inteligências Artificiais tanto quanto ou mais poderosas que o ChatGPT 4. Eles requerem que o treinamento desses modelos sejam interrompidos por 6 meses imediatamente, para que a humanidade tenha tempo de criar as regulamentações necessárias com a intenção de prevenir que esse tipo de tecnologia saia do controle, evitando que nos afete profundamente de forma negativa.

Acredito ser um alerta válido, portanto é crucial não nos deixarmos cegar pelo fascínio das IAs e examinar criticamente seus aspectos negativos. A ética, privacidade e segurança de dados são questões intrincadas que ainda precisam ser desvendadas. Além disso, a dependência excessiva da tecnologia pode levar à atrofia de habilidades humanas vitais, como criatividade, pensamento crítico e empatia. Isso sem contar o enorme impacto sobre muitos postos de trabalho.

Neste contexto, um dilema digno de um filme de ficção científica emerge: será que, algum dia, as inteligências artificiais desenvolverão consciência própria e se rebelarão contra os seres humanos? Embora essa perspectiva seja intrigante, prefiro manter o ceticismo e focar no potencial positivo da IA, que tem sido fonte de inspiração e transformação em minha jornada profissional. Acredito que as questões a serem levantadas devem proteger e garantir a nossa existência na condição humana.

Até que ponto queremos substituir nosso domínio sobre determinadas atividades? Até que ponto estamos dispostos a alienar processos que só possuem valor agregado justamente por serem feitos de pessoas para pessoas? É assustador pensar que em menos de 5 meses temos inúmeros postos de trabalhos ameaçados por conta do surgimento de uma tecnologia.

Todavia, a humanidade já passou por diversas revoluções anteriormente que pareciam estar muito mais propícias a criar o apocalípse do que a solucionar os problemas a que se dispunham. E aqui estamos todos usufruindo dessas criações largamente, sem pestanejar nem questionar sua origem. Acredito, portanto que a razoabilidade humana irá preponderar e que o avanço das pesquisas irão superar esses obstáculos, pavimentando um caminho ainda mais poderoso e transformador para a IA. Novas possibilidades se abrirão, trazendo inovações que mal podemos imaginar e expandindo ainda mais o alcance dessa tecnologia.

AINDA É MUITO CEDO (CONCLUSÃO)

É grande o entusiasmo e a expectativa ao fazer parte dessa transformação tecnológica. Estamos diante de um futuro repleto de descobertas e avanços e eu acredito que a IA tem o potencial de nos auxiliar a enfrentar os desafios globais do século XXI, como a urbanização acelerada, a sustentabilidade e a necessidade de um planejamento urbano mais inclusivo e humano.

Ainda é muito cedo para declarar os rumos da Inteligência Artificial. Mesmo que ela não tenha alma, é um assunto que será amplamente discutido nos meios políticos e jurídicos em todo o globo. Enquanto isso, como sempre, podemos fazer a nossa parte, pois o campo da ética não depende da ferramenta que utilizamos e sim dos valores que carregamos. Portanto se informar, conhecer e tirar proveito da ferramenta é tão importante quanto obedecer os limites da razoabilidade frente ao vasto universo de possibilidades que essa tecnologia oferece.

A humanidade tem a oportunidade de abraçar o futuro que já se faz presente e escrever, com nossas próprias mãos e mentes, os próximos capítulos dessa história empolgante. Como um artista diante de uma tela em branco, vamos pintar um retrato do futuro onde a IA se une à arquitetura, criando paisagens urbanas mais inteligentes, sustentáveis e humanas.


Olifer Neto



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